O Branco Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.
É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento. O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas. Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.
Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França. Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino. O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.
A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas. Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca. O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado. No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração. O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.
O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...
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